Como políticos de direita e de esquerda utilizam o TikTok no Brasil? Quais são as suas principais estratégias de comunicação política e em que resultados isso se reverte em termos de engajamento? Direita e esquerda assumem comportamentos distintos na plataforma? Os conteúdos publicados por políticos no TikTok são mesmo apolíticos? Essas são algumas das questões que este relatório procura responder.
Sumário Executivo
Este relatório se baseia em uma amostra composta por 23.139 vídeos publicados por 264 perfis de políticos no TikTok. Os dados coletados se referem ao período entre outubro de 2018 e março de 2022, quando se encerrou o prazo de desincompatibilização de cargos, segundo o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O estudo procura avaliar como os políticos utilizam e incorporam o TikTok em suas respectivas estratégias de comunicação política, que tipo de conteúdo produzem, e que resultados concretos, em termos de alcance e engajamento, eles obtêm. Muito se comenta a respeito das diferenças de apropriação de plataformas digitais por políticos de esquerda e de direita. O estudo procura abordar também essa distinção, apresentando dados empíricos que sustentam que o campo conservador-reacionário tem empregado mais e melhor o TikTok para alcançar maior visibilidade e despertar mais engajamento do público.
Os políticos de direita fazem uso mais frequente de uma linguagem apolítica e repleta de referências ao universo do entretenimento e do humor, incluindo as próprias trends da plataforma.
Analisar como direita e esquerda utilizam o TikTok pode elucidar uma série de aspectos relacionados às estratégias de adoção de plataformas digitais por atores políticos. Entre os principais resultados alcançados por este estudo, destacam-se:
Esquerda | Direita |
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Entre todos os partidos, o Partido dos Trabalhadores (PT) é aquele com maior número de políticos com contas no TikTok. Entretanto, há menos partidos de esquerda do que de direita com políticos presentes no TikTok | Há quase duas vezes mais políticos de direita no TikTok em relação ao número de políticos de esquerda |
Políticos de esquerda tendem a publicar menos no TikTok do que políticos de centro e de direita | Considerando apenas o Legislativo Federal, os políticos de direita são 57,5%, contra 34,3% de esquerda |
Políticos de esquerda tendem a ter um número inferior de seguidores e baixos índices de engajamento, se comparados aos políticos de direita | Políticos de direita tendem a utilizar mais trilhas sonoras para dublagens e aproveitar melhor as funcionalidades e recursos da plataforma para alcançar maior alcance e engajamento |
Políticos de esquerda tendem a seguir proporcionalmente mais usuários e apresentar uma discrepância menor entre o número de seguidores e o número de seguidos, em comparação com os políticos de direita, que geralmente se caracterizam por uma postura de acumular mais seguidores do que seguir outros usuários | Políticos de direita articulam melhor suas bases de seguidores, já que tendem a ter um número maior de visualizações em seus conteúdos quando dispõem de uma base maior de seguidores |
Políticos de esquerda tendem a receber menor quantidade de visualizações nos conteúdos publicados por eles | Políticos de direita tendem estatisticamente a acumular mais seguidores e a receber mais curtidas em seus vídeos, ao passo que políticos de esquerda sofrem uma tendência inversa |
Políticos de esquerda tendem a valorizar mais conteúdos de natureza estritamente política, ao passo que políticos de direita fazem uso de uma retórica mais voltada para o entretenimento e o humor, desviando-se frequentemente de pautas públicas | Políticos de direita não parecem fazer muito investimento para receber mais curtidas em seus conteúdos. Por outro lado, eles costumam acumular um número bastante superior de visualizações, o que pode sugerir um papel ativo da filtragem algorítmica e do sistema de recomendações do TikTok ao indicar tais conteúdos aos usuários |
O relatório ainda analisou qualitativamente o perfil de quatro políticos com altos índices de engajamento no TikTok, dois de esquerda e dois de direita, a saber: Manuela d’Ávila e Carlos Zarattini; e Tiririca e Renan Bolsonaro. | Tiririca é líder absoluto em diferentes métricas de engajamento da plataforma. Seu perfil, porém, não apresenta qualquer referência à sua atuação como deputado federal e se concentra na trajetória enquanto humorista |
Notas Metodológicas
Este estudo mapeou, entre outubro de 2018 e março de 2022 – antes de findo o prazo de desincompatibilização de cargos segundo o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) –, políticos brasileiros com conta no TikTok. Os dados foram raspados durante sessão de navegação do TikTok e tratado por meio de linguagem R.
O mapeamento foi realizado a partir de três técnicas distintas. Em primeiro lugar, partiu-se de uma lista fechada, com os nomes de políticos que ocupam cargos no Executivo e no Legislativo Federal. Foram considerados apenas os cargos de primeiro escalão, como presidente, ministros, secretários nacionais, senadores e deputados no exercício de seus mandatos. Além desses, levantou-se, também por meio de lista fechada, os nomes dos governadores das 26 unidades federativas e do Distrito Federal.
Em seguida, identificadas as contas existentes, procedeu-se uma bola-de-neve, rastreando-se, por meio dos usuários seguidos (following accounts), todos aqueles que correspondessem a atores políticos em qualquer nível: deputados estaduais ou distritais, secretários estaduais, prefeitos, vereadores e assessores especiais.
Na terceira e última fase do levantamento, foram adicionados políticos que não ocupam cargos eletivos no presente momento, mas são pré-candidatos a cargos majoritários e possuem lugar de destaque na cena política nacional. Com estes procedimentos, chegou-se a um total de 300 políticos com conta no TikTok, dos quais 265 (88,3%) mantêm contas ativas. Esses 265 políticos foram responsáveis pela publicação de 23.139 vídeos no total.
Créditos
Autores: Viktor Chagas e Luiza de Mello Stefano
Ilustrações: Daniel Rios
Diagramação: Daniel Rios
Viktor Chagas é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (PPGCOM-UFF). É bolsista de produtividade em pesquisa (PQ-2) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e bolsista Jovem Cientista do Nosso Estado da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). É membro associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD). Foi bolsista CNPq de Pós-Doutorado Junior em Comunicação e Cultura pela UFBA. Doutor em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (Cpdoc-FGV).
Luiza de Mello Stefano é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre em Comunicação pelo PPGCOM/UFJF (2019). Jornalista formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2015). Especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais. Pesquisadora associada dos grupos de pesquisa TeleVisões e Laboratório de Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB).
Como citar este relatório
- Em estudos acadêmicos:
1
CHAGAS, V.; STEFANO, L. TikTok e polarização política no Brasil. Niterói: coLAB/UFF, 2022. 66 p. (Série DDoS Lab). doi:10.56465/ddoslab.2022.001
- Na imprensa e em outras fontes:
1
Relatório "TikTok e Polarização Política no Brasil", de autoria de Viktor Chagas e Luiza de Mello Stefano, pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Comunicação, Culturas Políticas e Economia da Colaboração (coLAB) da Universidade Federal Fluminense.